Sangue, Sálvia e Fumaça
O cheiro do cigarro de sálvia ainda está no ar… o chá da mesma planta
corre dentro de minhas veias, as luzes no céu noturno são poucas hoje,
meio nublado o céu ao que parece, há milhares de textos dentro de minha
cabeça, dentro da Zona Interna, poucos deles imperfeitamente podem ser
postos pra fora… a Zona Interna é estranha, esquisita… não obedece a
nada do mundo de fora. Estou sentado numa cadeira de praia no quintal de
trás da casa no meio do pasto sob o céu a noite, tem gente que prefere
estar numa praia de dia sob o Sol; eu não… bem, nenhuma crítica, cada um
absorve o que lhe é da sua necessidade. Eu prefiro o ar da noite, o céu
escuro e o máximo de brilho de estrelas que puder captar; ainda há
casas demais a minha volta, nos quatro cantos, cercado, me sinto
cercado… os brejos e matagais ficam um pouco mais distantes, os sortudos
com mais grana tem seus quintais enormes cheios de árvores e plantas
diversas. Quanto mais isolado para mim melhor, detesto este cerco de
pessoas comuns, gente demais, árvores e matagais de menos, Jaguarão City
é uma pequena cidade rural (mal) misturada com as modernidades
culturais de hoje, daí você vê pessoas com certas disfunções de cultura
ao olhar atento, bosques viram lixeiras clandestinas, o verde é
considerado “sujeira” enquanto os próprios moradores emporcalham as ruas
e todo lugar com suas latinhas de cerveja, garrafas de refrigerantes de
plástico, sacolas de mercados, todo tipo de lixo não orgânico… chegam a
capinar seus quintais e jogar no meio fio das ruas de terra seu pasto
orgânico dentro de grandes sacolas de plástico do mais resistente…. vai
se entender esta Raça Humana de hoje… eu fico abismado e revoltado com
esta cultura moderna, não enxergam mais nada! Nem o céu maravilhoso a
noite e as coisas que passam por eles desapercebidos, os bosques
transformados em lixões, os matagais onde se tacam fogo, já que mato é
“lixo”, o verde é lixo! Cortam toda as copas das árvores porque suas
folhas secas “sujam o chão” de suas ruas de terra… eu não entendo mais
esta Espécie Humana de hoje… não entendo mais…
Se gabam de morar
numa “cidade Histórica” tombada, mas não estão nem ai para as ruínas
destas mesmas História de que tanto se gabam, nem mesmo a Prefeitura e
seus Políticos mui Inteligentes (fui super irônico aqui). Seus olhos e
atenção estão apenas para suas micro telinhas de seus super modernos
smartphones e seus aplicativos inúteis, seus falanstérios digitais onde
nada é dito de verdade, suas informações falsas criadas por pessoas
igualmente falsas paga-paus de alguma coisa ou alguém importante e por
aí vai… estão mais atentos em seus carros caros em suas garagens,
garagens algumas que ao lado de simples kitnet’s de pobres não fariam
uma casa inteira dos moradores das partes ricas da cidade… mas o
importante é o carro de marca, o Status… e o Bosque do Carrapicho ali ao
lado, Tesouro a vista para aqueles que sabem reconhecer, apenas vira
cada vez mais lixeira para todos que moram ao seu redor… igualmente seu
tamanho vai sendo reduzido sendo comprado por empresas que estão
“Desenvolvendo a cidade” com seu concreto e asfalto, motores e ônibus,
estacionamentos… e o verde do Bosque do Carrapicho vai diminuindo,
cercado por cercas de arame sabe-se lá de quem, já que seu suposto dono
nem aí está para sua manutenção… não é o verde que importa, não são as
árvores enormes que lá estão a séculos, décadas, plantas, remédios… não,
é apenas o terreno em si, o espaço pra ser vendido ao primeiro com
dinheiro a oferecer e cobrir o valor proposto… enquanto isso o Bosque do
Carrapicho vai virando lixeira dos moradores da região. Isto ocorre em
toda Jaguarão City, as gerações de hoje não enxergam o Verde como um
Tesouro… é só um terreno baldio onde posso jogar meus sacos de lixo,
sofás velhos, impressoras quebradas, TV’s, máquinas de lavar, pneus,
tudo, tudo de velho… mesmo tendo um sistema de coleta de lixo regular
toda semana em toda cidade, caçambas de lixo e etc… mas é mais fácil
jogar ali no mato meu lixo não biodegradável… nós Humanos, sem
distinção, somos a pior Espécie que já surgiu neste pobre Planeta.
Mas
eu quero falar de outra coisa, a Outra Jaguarão City, sim, há uma
Outra Jaguarão; cidade esta que recebeu seu nome de um dos Profundos, um
Ser tão antigo que os velhos (já desaparecidos) indígenas Guaranis já
conheciam como Jaguarú, nome também do próprio grande rio que este Ser
vive até hoje; invisível aos olhos humanos, mas que leva todo ano suas
prendas, desavisados que se afogam e seus corpos são tragados para as
profundezas do rio, todo ano tem uma história dessas… o Jaguarú continua
vivo e muito vivo!
Rios sempre foram Fontes de Poder e Vida de
uma cidade, o desta pequena cidade “rural” tem seu guardião a séculos.
Fora que Jaguarão foi construída sobre camadas e camadas de basalto,
rocha vulcânica negra pura! É fácil achar estas rochas em toda cidade,
até ruas foram pavimentadas com estas rochas negras lindas; lava, magma
puro saído do centro deste Planeta a milhões e milhões de anos, talvez
quando nada havia de terra por aqui, apenas rochas e montanhas
vulcânicas… hoje, só restam os cerros como quem sabe, memoriais bem
desgastados de um passado mais remoto que a mente humana comum possa
imaginar. Há Energias aqui, energias que ainda tentam sobreviver ao lixo
e cada vez mais aumento da população humana destruindo o Verde a sua
volta; há Energias aqui antigas, Vozes, Ancestralidade… há uma Outra
Jaguarão, e é desta que quero falar, essa Outra só certos olhos
conseguem enxergar, ver seus habitantes e Tesouros que ninguém considera
valor algum. Há espíritos de velhos Caboclos em matas mais fechadas à
grandes buracos em valas cheias de raízes mais velhas que eu e você,
buracos que seriam morada de coisas que é melhor não perturbar sua
quietude. Nesta Outra Jaguarão invisível há campos gigantescos, mas tão
grandes que seriam planetas compostos de Civilizações de formigueiros, o
Planeta das Formigas, assim o denominamos, como o Bosque do Carrapicho,
criamos nosso próprio mapa da Outra Jaguarão… lugar tal no meio dos
enormes fortins das formigas passou sobre nossas cabeças uma enorme e
estranha ave que nunca tínhamos visto antes por ali, um pássaro que
poderia ser um falcão muito grande… ou outra coisa voadora que coroou
nosso descobrimento do Planeta das Formigas e outros achados naquele
vale verdejante.
Nesta Outra Jaguarão vejo nos céus noturnos
coisas que se movem, e não são satélites, balões ou aviões… nem é rota
destas máquinas por aqui; coias estranhas piscam e somem, se mexem em
movimentos fora de qualquer órbita programada, coisas que parecem
serpentes feitas de noite e luzes, coisas que não parecem máquinas, e
sim vivas! Eu vejo todas estas coias nesta Outra Jaguarão, a Outra, que
seus cidadãos comuns e tão aprisionados em suas Realidades
pré-programadas pelo Todo nem conseguem mais perceber nada… eles nem
olham mais para o céu! Nem isto incrivelmente não fazem, perderam a
Capacidade de se Maravilhar com o Tudo que está a milênios a sua volta…
vieram os tais “Colonizadores”, se “Desenvolveram”, trouxeram esse tal
de “Progresso” e esqueceram tudo o mais.
É triste… é triste esta
época, esta Era de Espíritos Humanos Mortos-Vivos… tanta Tecnologia para
pouca Alma Verdadeira; na Outra Jaguarão existem coisas Misteriosas,
mas muito tempo escondidas dos olhares, a árvore de Figueira do
Enforcado, o Museu assombrado, a velha Picada, local de fuga dos antigos
Africanos escravizados… pequenos pântanos, bambuzais, fantasmas, há
muitas coisas para se explorar por aqui, se aventurar, mas muita coisa
cercada, tomada por mesquinhos donos de terra, pastos e pastos para suas
boiadas, florestas de Eucaliptos inteiras devastadas só para criar
pastos para bois… assim é.
A Raça Humana nunca mereceu este belo Planeta…nunca mereceu, somos Acidente ou um projeto mal feito, fracassado.
Se
alguma Divindade teve alguma coisa a ver com nosso surgimento, ela
estaria enormemente equivocada! Ou somos apenas uma entre tantas
experiências de Seres muito além de nossa pequena Imaginação poderia
conceber… acho mais veracidade Teórica nos textos de Lovecraft do que em
qualquer Religião, Doutrina e até mesmo a limitada e BURRA Ciência!
Burra sim, boa para descobrir doenças e suas fontes, catalogar o que vê e
encontra, criar remédios e tratamentos, tecnologia… mas, você deve
saber, sem aqueles romancismos de velhos tempos, a Ciência do Mundo
Moderno é apenas uma Rameira da pior espécie! Apoia, faz, mostra apenas o
que a Mão que lhe dá os Recursos para suas pesquisas permite ($$$$).
Não estou fazendo uma ode contra a Ciência, mas que ela é limitada
totalmente pelo cabresto de seus Donos, sim, ela é.
Mas, esqueça a
Ciência, não estou aqui para falar dessa chatice atroz; hoje mesmo
sentando em uma cadeira de praia no pasto do meu quintal pude ver coisas
se mexendo no céu escuro, coisas mais negras que a própria Noite, vi
pequenos brilhos se mexerem e traçarem seu rumo pelo espaço, vi pequenas
esferas de uma luz esverdeada ou azulada que parecem micro cometas
brilhantes passarem sobre minha cabeça, estas coisas quando percebem que
são vistas desaparecem como mágica, ou esperavam que fossem vistas…
nunca se sabe. Já vi sombras vivas enormes que pareciam um grande animal
de quatro patas maior que qualquer cão que conheça, andando por uma
velha estrada de terra que dá a algures distantes em outras pequenas
cidades mais fechadas ainda no campo… esta Outra Jaguarão tem um quê de
Antigo, dá pra sentir sua energia debaixo desta modernidade enfadonha,
vulgar e estúpida, percebe-se mais isto nas noites de névoa entre as
árvores; ainda há muitos Caminhos escondidos por aqui, lugares que ainda
não fui e devo ir, o mapa desta Outra Jaguarão deve ser feito, como
antigamente, em pele, couro de animal, e um grimório encapado com couro
de bode ou outro semelhante… há muita coisa a ser contada dentro de
minha Zona Interna, difícil é transformar em Palavras, Verbo, entendível
para os outros.
Há símbolos nas paredes, selos dados em Sonhar,
crânios, Fetiches, ossos, sujeira e marcas velhas de gatos brincalhões,
cheiros orgânicos, alguma bagunça, nada “simétrico”, e nem está do jeito
que eu gosto, ainda há muito a se fazer aqui, ainda não está meu Ideal,
este Covil (ou outro que se for arranjar) ainda falta mais coisas a
serem preparadas… ter minhas coisas de volta, coisas que ficaram para
trás e nem sei se as terei novamente, mas tudo é uma Aposta, como a
própria Vida.
Há Coisas a serem Firmadas aqui, sou um Ser que vive
de certas Energias, preciso delas a minha volta, não é apenas a energia
dos alimentos orgânicos, também os alimentos energéticos, Sangue, não
há outro parâmetro para tal… eu preciso deste Sangue! Sempre cacei este
Sangue mesmo quando tão jovem e nem sabia o que isto significava;
preciso dele para continuar a Batalha, Sangue sempre foi Vida e Vida
sempre foi o Sangue!
Entenda quem puder entender. Não haverá explicações aqui.
A
Outra Jaguarão esconde segredos antigos e eu quero trazer estes
segredos a tona, pelo menos tentar, vale mais para mim do que ser “um
deles”, estes simplórios viventes de hoje em dia, nascem, crescem,
recebem o mesmo LIXO que suas “adoráveis” famílias foram educadas, são
ensinados (como bons cães) a ir atrás do que lhes é ensinado,
envelhecem, ganham seu dinheiro e depois morrem.
Observo e acho
triste e sem sentido esta Existência, triste, jogada fora e estúpida;
uma mesma manada de primatas a fazerem sempre a mesmíssima coisa para
sempre.
Já eu, parece que nasci com esta deformação de
Consciência nativa de necessitar de um tipo de Sangue diferente, mesmo
que difícil, mesmo que a escolha que caçar Isto em minha Realidade
Pessoal seja como um ato de suicídio parcelado. É aquele segredo, não é
sobre se “empoderar”, é sobre Enfoderar-se… é meu caro ou minha cara, as
escolhas dependendo de suas Realidades Pessoais vão lhe foder, para
mais ou para menos, não importa, mas vão te foder! Este o Segredo dos
Juramentos e dos Pactos que ninguém te conta não é mesmo?
Mas
sim, é uma Aventura, é um Jogo… bem, acho que este texto já está grande
demais, escreverei mais sobre esta Outra Jaguarão com mais Liberdades e
outras Vivências, outras descobertas e mais sobre nossa própria
Filosofia Pessoal de jogar este grande Jogo; posso-lhes adiantar que
mistura algo mais do Punk mais anárquico, Mágica e Feitiçarias,
sobrevivências pós-apocalípticas e muitos presentes achados dentro de
Makayas e lixeiras… sempre um muito obrigado a Senhora Maria Mulambo!
Saravá! Laroyê Dona Mulambo!
Somos sobreviventes, somos os ratos
nas vielas escondidas duma sociedade cada vez mais hipócrita, falsária,
controladora e burra… somos os Filhos da Destruição, Pestilência,
BioPunk’s catando comida, Fetiches Mágicos e Vida do que ainda permitem
existir… catamos seus restos, os restos da cidadezinha aparentemente bem
arrumada, bonitinha, sem miséria, fome e sujeira… somos os Feiticeiros
xamãs dos caminhos mais difíceis, somos obrigados a desenvolver Fórmulas
e Técnicas que se ajustem a esta Realidade a nossa volta… suja, podre,
mesquinha, miserável e muitas outras coisas.
O “bonito” e “bem sucedidos” estão nas belas cidades ordenadas e suas micro telinhas de smartphones.
Termino
por aqui… depois despejo mais de meu vômito doentio, minha gosma do
pântano que teima em querer subir à superfície, porque não há mais volta
para mim.
FIM